Chorei 17 dias depois que você partiu. 408 horas. 24480 minutos. No décimo oitavo dia, eu prometi que não mais. Você não valia todo aquele drama. 

É engraçado como a gente acha que tem controle sobre o que sente. A partir dali eu não chorei mais, mas isso não me fez sofrer menos. 

No vigésimo quarto dia, tinha alguém com o seu perfume no mesmo ônibus que eu. O coração apertou, o olho ficou cheio de água e eu precisei enfrentar todos os dragões que estavam dentro de mim pra não desabar ali. No 30° dia sem você, resolvi que já estava boa o bastante pra assistir o meu filme favorito sem a sua companhia. 

Acontece que a cada cena eu lembrava dos seus comentários, às vezes ácidos, por conta da sua implicância com o personagem principal, às vezes doce, sobre o nosso amor era muito mais bonito que qualquer história de amor. 

Perdi o meu filme favorito. Assim como eu perdi a padaria que tomávamos café juntos todos os dias, a pizzaria aqui perto de casa que por diversas vezes foi o pivô das nossas DRs de sexta-feira. Aliás, eu nunca entendi qual graça você via em querer comer atum sem mussarela. Perdi o atalho que você me ensinou para o trabalho, porque não queria lembrar quantos atrasos ele já me rendeu enquanto você me rendia ali. Perdi as minhas músicas. E as músicas que você me apresentou. Perdi alguns livros que você me indicou e eu já tinha até comprado. Perdi aquele mochilão que a gente ia fazer pela Ásia. 

Demorei pra conseguir entender porque eu é que estava perdendo tudo se você é que tinha ido. 396 dias depois, eu sei! Ao todo, quem mais perdeu foi você quando deixou que o resto do mundo fosse mais interessante que me ter. Espero que cê não tenha se arrependido! 

É que no 57ª dia eu descobri o meu novo favorito. Uma semana depois, conheci uma nova padaria pra tomar o meu café com pão na chapa e requeijão. Aqui na esquina, inauguraram uma nova pizzaria! Mudei de emprego e o caminho é tão bonito que eu nem preciso de atalho. 

Descobri que eu amo música nacional, assim como que, no fundo, eu sempre detestei aqueles seus livros de auto ajuda. Sobre a Ásia? Esquece! Fui pra Austrália mês passado...